Febeapá [009]
Ensejado por este dia glorioso e ensolarado de outono paulistano, o qual me enche de orgulho e do qual me ufano, pois finalmente a pátria calçará suas chuteiras e paralisará por completo todas as atividades produtivas, comerciais e intelectuais para simplesmente olhar e/ou escutar locutores ensandecidos e comentaristas cordatos e ponderados por 90 minutos... e também por ter já encerrado o concurso - patrocinado pelo jornal o Estado de São Paulo sobre contos curtíssimos sobre futebol - e os 11 contos vencedores devidamente publicados na edição de 03/06/06, e, por fim, por eu não ter sido um dos contemplados, posso agora - sem a menor dor de consciência - tornar público o conto, de minha própria lavra, de título:
JOÃO, CHICO, SÉRGIO, HERMINDO E JÚLIO.
Meu sobrinho de 6 anos chega correndo e dispara - como só garotos cheios de energia conseguem - a grande novidade do dia, que em resumo significa:
- Tio! Meu pai vai me levar no jogo de futebol! - Ainda sem tomar fôlego, e antes que eu conseguisse perguntar algo, o João Pedro emendou;
- Meu pai falou que você tem uma estória legal de futebol, conta pra mim? Conta, conta…
Antes que a manhã ficasse insuportável, concordei. Mas que raio de “estória legal" era essa? Meu irmão havia despachado seu ansioso filho p'ro “tio velhinho” antes que ele o deixasse louco (...)
Com a "bolinha" jogada hoje, a "grossura" atual de nossos times, fica difícil contar algo decente sobre o assunto. Mas que estória de futebol? Já começava a me ver todo enrolado e o João, lá, paradão, me fitava com aqueles olhos de “cadê a estória?”... Foi quando caiu a ficha:
- Só pode ser esta estória! – falei comigo mesmo – e o João:
- Qui’stória, tio?
- João, vou contar como escolhi o meu time… como me tornei torcedor do...
- É o mesmo time que o meu, né, tio?
- É. Deix’eu contar a estória? – Silêncio, e um aceno de cabeça… Perfeito: garoto sob domínio.
- Então, quando eu tinha a sua idade… Não! Eu era um pouquinho mais novo, por volta de 1963…
- Meu pai nasceu em 1968. Então foi antes de meu pai nascer…
- João… Posso continuar a estória?! Silêncio respeitoso… definitivamente, garoto controlado...
- Minhas primeiras lembranças sobre futebol vem de uma partida entre Santos e Palmeiras no velho Parque Antártica e o encantamento que só garotos de 4 ou 5 anos têm ao ficar nos ombros do pai, num estádio de futebol sábado de sol e um sorvete escorrendo pelas mãos. Sabe João, naquela época não havia futebol pela TV.
- Posso perguntar uma coisa, tio? - Definitivamente consegui a atenção e o controle do João, ufa!) e antes de eu falar algo ele já emendava (é… nem tanto controlado):
- Num era chato? - Fiz cara de estar sopesando bem a resposta e com um ar gaiato respondi:
- Não. E CONTINUANDO a estória…
- Eu, nos ombros do vô Hermindo, no meio da arquibancada, todo mundo pulando, gritando, rindo, xingando… era muito legal. Aí o mais importante daquele jogo aconteceu. Eu não conseguia desviar a atenção de um jogador. Aonde ele ia eu o seguia com olhos… Hoje eu sei que o que me chamou a atenção para aquele jogador foi o fato de ele parecer-se muito com meu pai. Mas, sabe João, havia algo mais, sei lá. Eu fiquei vidrado naquele jogador por um tipo de mágica, uma fascinação envolvente que não consigo definir a não ser por uma frase simples que sempre repito quanto tento explicar o que houve naquele dia (e agora sei por que o Chico pediu p’ra eu contar esta estória para você): Ele, João, jogava futebol de verdade!!! Muito... mas muito futebol… era um craque!
- Eu não consegui desgrudar os olhos durante toda aquela partida do Julinho Botelho, ponta-direita do Palmeiras e este foi o causador de eu torcer até hoje pelo time que ele defendeu naquela época.
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JOÃO, CHICO, SÉRGIO, HERMINDO E JÚLIO.
Meu sobrinho de 6 anos chega correndo e dispara - como só garotos cheios de energia conseguem - a grande novidade do dia, que em resumo significa:
- Tio! Meu pai vai me levar no jogo de futebol! - Ainda sem tomar fôlego, e antes que eu conseguisse perguntar algo, o João Pedro emendou;
- Meu pai falou que você tem uma estória legal de futebol, conta pra mim? Conta, conta…
Antes que a manhã ficasse insuportável, concordei. Mas que raio de “estória legal" era essa? Meu irmão havia despachado seu ansioso filho p'ro “tio velhinho” antes que ele o deixasse louco (...)
Com a "bolinha" jogada hoje, a "grossura" atual de nossos times, fica difícil contar algo decente sobre o assunto. Mas que estória de futebol? Já começava a me ver todo enrolado e o João, lá, paradão, me fitava com aqueles olhos de “cadê a estória?”... Foi quando caiu a ficha:
- Só pode ser esta estória! – falei comigo mesmo – e o João:
- Qui’stória, tio?
- João, vou contar como escolhi o meu time… como me tornei torcedor do...
- É o mesmo time que o meu, né, tio?
- É. Deix’eu contar a estória? – Silêncio, e um aceno de cabeça… Perfeito: garoto sob domínio.
- Então, quando eu tinha a sua idade… Não! Eu era um pouquinho mais novo, por volta de 1963…
- Meu pai nasceu em 1968. Então foi antes de meu pai nascer…
- João… Posso continuar a estória?! Silêncio respeitoso… definitivamente, garoto controlado...
- Minhas primeiras lembranças sobre futebol vem de uma partida entre Santos e Palmeiras no velho Parque Antártica e o encantamento que só garotos de 4 ou 5 anos têm ao ficar nos ombros do pai, num estádio de futebol sábado de sol e um sorvete escorrendo pelas mãos. Sabe João, naquela época não havia futebol pela TV.
- Posso perguntar uma coisa, tio? - Definitivamente consegui a atenção e o controle do João, ufa!) e antes de eu falar algo ele já emendava (é… nem tanto controlado):
- Num era chato? - Fiz cara de estar sopesando bem a resposta e com um ar gaiato respondi:
- Não. E CONTINUANDO a estória…
- Eu, nos ombros do vô Hermindo, no meio da arquibancada, todo mundo pulando, gritando, rindo, xingando… era muito legal. Aí o mais importante daquele jogo aconteceu. Eu não conseguia desviar a atenção de um jogador. Aonde ele ia eu o seguia com olhos… Hoje eu sei que o que me chamou a atenção para aquele jogador foi o fato de ele parecer-se muito com meu pai. Mas, sabe João, havia algo mais, sei lá. Eu fiquei vidrado naquele jogador por um tipo de mágica, uma fascinação envolvente que não consigo definir a não ser por uma frase simples que sempre repito quanto tento explicar o que houve naquele dia (e agora sei por que o Chico pediu p’ra eu contar esta estória para você): Ele, João, jogava futebol de verdade!!! Muito... mas muito futebol… era um craque!
- Eu não consegui desgrudar os olhos durante toda aquela partida do Julinho Botelho, ponta-direita do Palmeiras e este foi o causador de eu torcer até hoje pelo time que ele defendeu naquela época.
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