I Dig it 051

Hoje é dia de Podcast Impressões Digitais em sua quinquagésima-primeira edição - versão Compacto Duplo.

LADO A:
Concerto de Brandenburg nº 5 - 3º movimento - Allegro (J. S. Bach )

INTRO:
Neste que é o quarto de sete episódios da série Estórias da História do Brasil, a seção Homo Sapiens enfoca os acontecimentos do século 18. Esta série iniciada lá na edição nº 42 do Compacto Duplo desenvolve o tema “As estórias da História do Brasil“, onde de um modo diferente tento contrapor algumas facetas da realidade histórica brasileira com as dos países dominantes de cada período histórico, as quais contribuíram para a formação de nossa estrutura tupiniquim europeizada. Na realidade estou pouco a pouco desenhando a estrutura sócio-econômica na qual se formou o nosso brasilzão-véio-de-guerra.

HOMO SAPIENS:
Século 15: Para se livrar do crescente domínio econômico e militar do Império Otomano no Mediterrâneo, os ibéricos e lusitanos - na busca de uma uma nova rota comercial entre a Europa Ocidental e o Oriente Indo-Asiático - tropeçaram por acaso em um continente longíquo, selvagem e completamente disponível à exploração.
Os outros reinos europeus viram nestas descobertas a oportunidade de ganhar um novo espaço econômico, através da apropriação pura e simples das fronteiras dos portugueses e espanhóis.

Século 16: Este é marcado pela conquista militar da América espanhola, e pelo abandono e experiências tímidas e desastradas de domínio da América portuguesa pelos lusitanos mais interessado com o comércio na Índia e na China.
O pau-brasil, os papagaios, os degredados, aventureiros, escravos e mestiços, todos abandonados à sua sorte condensam a obra da coroa portuguesa nas primeiras décadas do século 16 no Brasil.
Quase 50 anos após Cabral é que um representante da coroa, instala-se na Bahia, isso porque outras nações européias ameaçavam tomar por ocupação as terras, até então, quase abandonadas por Portugal. A política desinteressada da Corte, a distribuição das donatarias dentre aventureiros descartados dos negócios com o rico Oriente, conformou os posteriores senhores das terras, ex-comandados destes donatários também distantes e desinteressados das suas terras, que juntamente com o imenso latifúndio, com o catolicismo ampliado pelas ações da contra-reforma, a monocultura da cana-de-açúcar, e a mão-de-obra escrava, formaram parte de um complexo sócio-econômico, que acabou definindo a vida brasileira por quase quatro séculos, sendo a gênese da estrutura social fortemente hierárquica e imensamente desigual que nos acompanha. Por força de seu sangue português, Filipe II, rei da Espanha é aclamado rei de Portugal como Filipe I. Portugal fica sob o controle da Espanha de 1580 até 1640. Com o domínio espanhol, Portugal (e o Brasil) herdaram os inimigos da Espanha: Inglaterra, França e Holanda.

Século 17: O Brasil, mesmo sob domínio de Espanha por quase meio século, teve sua identidade portuguesa definitivamente consolidada. A expansão do poder eclesiástico na colônia e a miscigenação das raças americanas, européias e africanas foram profundo e tornaram-se irreversíveis, e enquanto essa mesma colônia sobrevive aos ataques dos indígenas, às rebeliões e fugas dos negros, às pestes e epidemias - enquanto arranca da cana a principal e quase única riqueza de suas extensas terras - na Europa, mesmo turbulenta, as ciências e as artes encontram seus grandes mestres: Galileu Galilei, Sheakespeare, Cervantes, Rembrandt, Bacon, Descartes, Pascal, Hobbes, Corelli, Rubens, Velasques, Moliere, Racine, Newton, Locke... e muitos outros.
A relativa unidade sob a República Cristã medieval já em colapso desde o início do século 16, castigada pelos avanços do Império Otomano na Europa oriental, foi sacudida ainda mais pela grande turbulência provocada pelo embate religioso-político das doutrinas de Lutero e Calvino, o qual levou à fragmentação do Cristianismo Latino, entre Católicos e Protestantes. Estes últimos, perseguidos e sem muito espaço na Europa ocidental emigram em massa para as novas colônias da América inglesa.
Enquanto que na América latina, mais especificamente no Brasil os jesuítas, apesar de não concordarem com a escravidão dos indígenas, defendem ferreamente a escravidão dos africanos, e conseguem implementar toda a agenda católica de co-gestão do poder atuando na dominação catequista e social da colônia.
A partir do último quarto de século 17 o poder da Igreja Católica se fixa finalmente - com toda uma hierarquia e suporte eclesiástico estruturados - em um Brasil que também já possui uma divisão administrativa sólida e afinada com os planos de expansão do território, os quais permitem as explorações, povoamentos e descobertas de pedras preciosas.

Século 18: O século emerge com as descobertas de riquezas minerais. O Brasil colônia - enfim - mostra-se imensamente rico, na região de Minas Gerais, proporcionando algo jamais esperado por aqueles aventureiros e degredados da metade dos 1500 e muito menos pelos mestiços e comerciantes de açúcar e escravos do século 17. Se por um lado durante todo o século 18 mais de 6 milhões de escravos são comercializados no ocidente por outro o Brasil torna-se o maior produtor mundial de diamantes e ouro. Enquanto isso no hemisfério norte: Os estudos sociais, econômicos e políticos evoluem e são postos em prática; várias guerras de dominação permeiam o século; mesmo assim a partir da metade do século há um impulso nas ciências, na estrutura industrial e na geo-política das nações européias e suas colônias americanas, todas elas determinantes para a consolidação da Revolução Industrial do século 19.

De modo bastante simples: no século 18 enquanto alguns países europeus e colônias reestruturam suas estruturas políticas revolucionariamente (e se envolvem em novos enlaces geo-políticos, desenvolvem suas ciências, cultura e indústria moldando o que seria a revolução industrial do século 19), Portugal se encolhe por detrás de uma estrutura comercial prá lá de submissa à coroa britânica. Mesmo com a administração descolada da igreja promovida pelo Marquês de Pombal a estrutura portuguesa atrela-se apenas à exploração do ouro e diamantes do Brasil para pagamento dos produtos ingleses. No Brasil, a mineração e a riqueza encontrada provoca vários efeitos: a população cresce exponencialmente, o eixo econômico desloca-se do nordeste para o sudeste, o processo de urbanização sedimenta-se, sistemas de transportes (estradas e portos) são implementados, serviços e artesãos estabelecem efervescente sistema comercial nos núcleos mineiros... Mas como a riqueza era toda desviada para a Europa, ao final das reservas minerais e do século, para os brasileiros sobrou apenas uma economia agro-pecuária (algodão, cana de açúcar e gado) calcada nos escravos que formavam a metade da população, e no que restou das atividades (serviços e pequeno comércio) relacionadas aos centros urbanos e mineiros.


LADO B: Sinfonia nº 6 (Pastoral), opus 68 - 3º movimento - Alegro (L. Van Beethoven)

BACKGROUND:
J. S. Bach:
Concertos de Brandenburg nº 1 F, BWV 1046 - 1.; 2. Adagio; 3. Allegro; 4. Menuetto, 2 Trios & Polacca.
Concertos de Brandenburg nº 2 F, BWV 1047 - 1.; 2. Andante; 3. Allegro assai.
Concertos de Brandenburg nº 3 G, BWV 1048 - 1.; 2. Adagio; 3. Allegro.
Concertos de Brandenburg nº 4 G, BWV 1049 - 1. Allegro.

Van Beethoven:
Abertura de As Criaturas de Prometeus, opus 43
Sinfonia nº 6 (Pastoral), opus 68 - 1. Allegro Ma Non Troppo
Sinfonia nº 6 (Pastoral), opus 68 - 2. Andante Molto Mosso
Sinfonia nº 6 (Pastoral), opus 68 - 4. Allegro

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