Guia de sobrevivência

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Agora, no finzinho de 2007, eu vou completar - e comemorar devidamente - dois anos desta vidinha ininterrupta de podcaster.

E quando digo comemorar, posso orgulhosamene afirmar que, essa sim, é uma data a ser festejada - com festa - enfim, um evento digno de nota, uma efeméride nesta aldeota meio assim-assim em que se encontra o podcasting verde-amarelo varonil.

Lembro-me bem que durante alguns meses acompanhei os primeiros podcasts ingleses e norte-americanos e acabei descobrindo no início de 2005 os pioneiros tupiniquins. Infelizmente a maioria destes brasileiros desligaram seus microfones, apesar de manterem - alguns, apenas alguns - um bloguezinho aqui, outro acolá...

Àquela época, após somente algumas semanas de convivência com os podcasts me bastaram para eu tomar a decisão: "Vou nessa!"

Porém, meu lado engenheirol questionou: "'Tá legal - ô mané! - você vai nessa e vai fazer o quê? Vai manter o podcast como? Tem assunto interessante para seu blá-blá-blá semanal? (Olha só a pretensão!? Fazer um podcast semanal!!!). De onde virá a grana p'ra pagar a hospedagem e a banda de tráfego? Será necessário comprar hardware e software? Quanto custa tudo isso?..." e mais um monte de questões estruturais e operacionais. Mesmo assim, assim como todo adolescente que “vai” e só depois se preocupa com as conseqüências do ato, tomei fôlego e enfiei a cara.

Devo esclarecer que esta "tomada de fôlego", entre decidir fazer o podcast e colocar o primeiro programa na rede, durou quase 5 meses.

Este longo período não deveu-se à indecisão ou paura, é que eu havia decidido utilizar apenas meu tempo livre para estudar tudo o que se referia a podcast, xml, css, html, e cavocar na rede tudo quanto é software de áudio (grátis!), provedores (grátis!), banda de tráfego (grátis!), email (grátis!), ou seja, qualquer coisa... grátis!

Eu estava determinado, uma das premissas fundamentais para me tornar podcaster foi a de não vou gastar um tostão para produzir, editar, divulgar e distribuir o meu podcast. Outra premissa, também fundamental: no mínimo devo manter o podcast por um ano (algo como 25 episódios, um número p'rá lá de razoável, quando percebi que um podcast semanal era inviável) para decidir se continuava ou não com essa loucura. Acho que foi por isso que não me importei em comemorar o primeiro aniversário do Impressões Digitais.

Tive sorte, admito, muita sorte mesmo. Os pioneiros e a efervescência do podcasting naqueles dias me ajudaram muito na divulgação, assim obtive uma excelente divulgação através do público deles. Ao mesmo tempo tive me esmerar no conteúdo para não ficar defasado. É... a concorrênca estimula a excelência.

Consegui mais alguns ouvintes fazendo um ahn... hum... spam calcado na minha lista de emails. Bem, ao fim consegui me estabelecer razoavelmente no meio podcasting, mesmo com minhas deficiências técnicas e vocais, daquelas que causam arrepios nos profissionais de rádio.

Confesso que durante o primeiro ano acompanhei frenetica e ansiosamente o lento acréscimo de downloads no registrador do Loudblog (meu antigo gerenciador de podcasts). Quando eu decidi, em maio de 2007, mudar para o WordPress e depois de passar por algumas dificuldades para ajustar o contador de downloads, cheguei a conclusão que isso - contar downloads - não valia a pena e também não significava muita coisa (pelo menos para mim).

Eu sempre me deliciei e me preocupei com os contatos e comentários dos ouvintes; a quantidade de downloads não me interessa diretamente. Creio que já alcancei uma "massa crítica" - uhm, excelente termo este, perfeito para demonstrar minha idéia - que atende as minhas egocêntricas expectativas em conjunto com minhas necessidades de controle e avaliação pública.

Alguns ouvintes comentam no blog, eventualmente (o que faz um bem danado para o ego público); outros enviam emails e áudios; alguns não comentam nada, mas me adicionam como fãs em serviços de agregação de blogs ou podcasts (e quando eu descubro isso fico muito lisonjeado com esta declaração pública desinteressada); outros tornam-se parceiros, companheiros e amigos!!! Com esses é uma troca danada de e-mails, IMs, VoIPs e mp3s, fomentando situações singulares de apoio, interação e aproximação.

Vocês não sabem, nem fazem a menor idéia do que nós acabamos fazendo para simplesmente nos encontrar tête-a-tête.

Após quase dois anos de lida me pego um pouco preocupado, não surpreso, apenas preocupado. Sempre, em uma nova mídia, muitos a abraçam inicialmente e em dado momento ocorre uma deserção, em maior ou menor intensidade (acaba-se a fantasia e descobre-se a realidade), mas, aparente e infelizmente o que ocorre atualmente com o podcasting brasileiro vai na contramão do que acontece no hemisfério norte ocidental.

Eu digo parece, porque não possuo nenhum dado muito concreto, apenas minha mísera e humilde observação dos fatos que me chegam à mão. Enquanto o podcasting no mundo inglês mantém-se em crescimento, inúmeros podcasts brasileiros somem todos os dias... puf! Outros piscam feitos vagalumes numa noite de verão, outros, ainda, pedem licença sine-die.

Creio que aqueles que buscavam soluções econômico-financeiras para alavancar, sustentar e gerar lucro com a continuidade de seus podcasts - dentro das estrututuras formais da internet - foram os primeiros a abandonar o barco.

Aqueles que atrelaram o podcast a uma outra estrutura de divulgação ou o utilizaram como out-door dinâmico de seus afazeres mais ou menos profissionais, aparentemente, deram-se bem e mantêm seus podcasts alegres e felizes com os resultados da exposição.

Outros que também sorriem pela existência e longevidade de seus podcasts são aqueles - que como eu - não estão nem aí para o quesito “reembolso e remuneração em moeda sonante para produzir o bichinho”. Com certeza estão felicíssimos pelo prazer que ele - o podcast - lhes dá. Se no futuro aparecer uma possibilidade de alavancar uns trocados - ou milhares, oxalá! - tudo bem... sem problemas.

Na realidade creio que os podcasters brasileiros mais felizes hoje em dia são aqueles que prazeirosamente e sem expectativa alguma ou quaisquer preocupações com o AdSense do Google, botam a voz na rede, sem grandes expectativas e sem medo de serem felizes.


Sérgio Vieira - autor deste artigo, como um descendente direto da cultura caipira paulistana "trupica mas num cai", e assim vai levando seu podcast.

http://impressoes.vocepod.com
idigitais@gmail.com



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