I Dig it 062a (Parte 1)
Hoje é dia de Podcast Impressões Digitais em sua edição 62 - versão Compacto Duplo.
PARTE 1
Lado A: Norma (Sinfonia) de Vincenzo Salvatore Carmelo Francesco Bellini
INTRO:
Na seção Homo Sapiens do Impressões Digitais Versão Acústica, vou abordar os acontecimentos do século 19, neste que é o quinto de sete episódios da série Estórias da História do Brasil.
Esta série - originada por uma provocação do curitibano Renato Castilho do podcast Viver Digital - tenta contrapor algumas facetas da realidade histórica brasileira com a dos países dominantes em cada século, e assim, quiçá, identificar quais fatores contribuíram para a formação de nossa estrutura tupiniquim europeizada. Na realidade estou esboçando o ambiente histórico no qual se formou o nosso brasilzão-véio-de-guerra.
Para eu poder falar sobre o complexo século 19, onde uma colônia abandonada passa a ser reino e vira império, tenho que refazer o caminho histórico desde o século 15...
No reinado de D. João I, lá pelo início dos 1400, Portugal era um reino isolado, independente, com uma população estimada em pouco menos de 500 mil almas. Não é preciso muito esforço para presumir o que ocorria numa sociedade ainda Medieval: faltava tudo... o que você imaginar faltava.
Nas cidades geladas os legumes são extremamente raros, a beterraba é desconhecida, inexiste café, cacau, chá. Portanto, uma dieta de peixe seco ou carne salgada e algumas raízes durante todo o ano. Eis então que começam a chegar à Europa as especiarias do Oriente. Pimenta e cravo da Índia para transformar o gosto da carne. Canela, noz-moscada, gengibre, benjoim e aloés para enriquecer o sabor dos reduzidos acepipes. Sândalo, resinas aromáticas para opor à pestilência das ruas.
Com a conquista de Ceuta em 1415 no Norte de África, inicia-se a buscada expansão portuguesa. Esta conquista infelizmente, não resolveu os problemas de acesso às rotas comerciais. Os Mouros, simplesmente desviaram as rotas do ouro e das especiarias para outras cidades. A Conquista de Ceuta foi um total insucesso econômico.
Após este insucesso, o Infante D. Henrique, organizou as primeiras viagens de descoberta ou conquista e domínio. Até 1460, os Portugueses “descobriram”, o arquipélago da Madeira, o arquipélago dos Açores e a Costa africana até à Serra Leoa. Em 1434, Gil Eanes dobra o Cabo Bojador ao sul das ilhas Canarias nas costas do Saara Ocidental.
E essa maluquice toda valia a pena? Do início do século XVI temos a seguinte avaliação: um quintal (cerca de 46 quilos) de cravo da Índia custa 2 ducados nas ilhas Molucas (perto da Nova Guiné), 14 ducados em Malaca (Malásia), 50 ducados em Calecute (India) e 213 ducados em Londres. Com este progressivo aumento de preços, conforme se vai marchando de leste para oeste, poderia haver melhor negócio do que abrir caminho alternativo para o comércio direto das especiarias?Século 16:
O pau-brasil, os papagaios, os degredados, aventureiros, escravos e mestiços, todos abandonados à sua sorte condensam a obra da coroa portuguesa nas primeiras décadas do século 16 no Brasil.
Quase 50 anos após Cabral é que um representante da coroa, instala-se na Bahia, isso porque outras nações européias ameaçavam tomar por ocupação as terras, até então, quase abandonadas por Portugal.
A política desinteressada da Corte, a distribuição das donatarias dentre aventureiros descartados dos negócios com o rico Oriente, conformou os posteriores senhores das terras, ex-comandados destes donatários também distantes e desinteressados das suas terras, que juntamente com o imenso latifúndio, com o catolicismo ampliado pelas ações da contra-reforma, a monocultura da cana-de-açúcar, e a mão-de-obra escrava e tráfico negreiro, formaram parte de um complexo sócio-econômico, que acabou definindo a vida brasileira por quase quatro séculos, sendo a gênese da estrutura social fortemente hierárquica, dependente e imensamente desigual que nos acompanha. Século 17:
O Brasil, mesmo sob domínio de Espanha por quase meio século, teve sua identidade portuguesa definitivamente consolidada. A expansão do poder eclesiástico na colônia e a miscigenação das raças americanas, européias e africanas foi profunda e tornou-se irreversível, e enquanto a colônia sobrevive aos ataques dos indígenas, às rebeliões e fugas dos negros, às pestes e epidemias - enquanto arranca da cana a principal e quase única riqueza de suas extensas terras - na Europa, mesmo turbulenta, as ciências e as artes encontram seus grandes mestres.
Na América latina, mais especificamente no Brasil os jesuítas, apesar de não concordarem com a escravidão dos indígenas, defendem ferreamente a escravidão dos africanos, e conseguem implementar toda a agenda católica de co-gestão do poder atuando na dominação catequista e social da colônia.Século 18:
O século emerge com as descobertas de riquezas minerais. Se por um lado, durante todo o século 18 mais de 6 milhões de escravos são comercializados, por outro o Brasil torna-se o maior produtor mundial de diamantes e ouro. Enquanto isso no hemisfério norte a partir de 1750 há um impulso nas ciências, na estrutura industrial e na geo-política das outras nações européias com reflexos diretos em suas colônias espalhadas pelo mundo, todas elas determinantes para a consolidação da Revolução Industrial do século 19.HOMO SAPIENS (ou Timeline):
1801: Quando o Tratado de Badajoz é assinado entre Portugal, Espanha e França, forçando o fechamento dos seus portos aos ingleses.
1803: A circulação de ouro em pó é abolida nas capitanias brasileiras.
1807: A Família Real Portuguesa sai de Portugal por causa da invasão eminente de Portugal pelas tropas de Napoleão.
1808: Chega a família real em Salvador. O Decreto de Abertura dos Portos às Nações Amigas é promulgada pelo príncipe regente Dom João. Em maio D. João declara guerra à França, invadindo a Guiana Francesa. Em junho Começa a circular o primeiro jornal brasileiro, o Correio Braziliense, publicado em Londres, Inglaterra. Em setembro no Rio de Janeiro, começa a circular o primeiro jornal impresso no país, a Gazeta do Rio de Janeiro. Em outubro O Banco do Brasil é criado por D. João.
1809: As forças luso-brasileiras ocupam a Guiana Francesa até 21 de novembro de 1817. 1810: A Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro é criada.
1811: A Real Biblioteca é instalada no Rio de Janeiro. O Piauí é elevado à capitania autônoma. Um armistício estabelece a retirada das tropas portuguesas da Banda Oriental (Uruguai).
1812: É desmembrada a Freguesia de São Pedro do Rio Grande do Sul, pertencente ao bispado do Rio Grande, erigindo a Freguesia de Pelotas.
1813: Revolta de escravos para ocupação de Salvador, esmagado pelas forças reais.
1815: Dom João VI eleva o Brasil à condição de Reino Unido de Portugal e Algarves.
1816: D. Maria I morre no Rio de Janeiro e é sucedida pelo princípe D. João VI, então aclamado rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, aos 40 anos. A
1817: Tropas luso-brasileiras ocupam Montevidéu. Eclode a Revolução Pernambucana, em Recife. Quatro líderes da Revolução Pernabucana são executados. O Príncipe D. Pedro de Alcântara casa-se com a Arquiduquesa da Áustria, Maria Leopoldina no Rio de Janeiro.
1818: Fim da Revolução Pernambucana. D. João VI proíbe o funcionamento de sociedades secretas.
1819: Os primeiros imigrantes estrangeiros (não portugueses) chegam ao país.
1820: Início da Revolução Constitucionalista do Porto.
1821: Revolução constitucionalista, na Bahia. As capitanias brasileiras tornam-se províncias. O Diário do Rio de Janeiro, o primeiro jornal diário do país, é fundado. Dom João VI regressa a Portugal, chamado pelas Cortes Constituintes, reunidas em virtude da revolução de 1820, deixando seu filho D. Pedro I como Regente do Brasil no Rio de Janeiro. A liberdade de imprensa é decretada pelo Regente D. Pedro I. A Banda Oriental do Uruguai é anexada com o nome de Província Cisplatina. O Ceará adere à Revolução Constitucionalista Portuguesa.
1822:
Dom Pedro I declara que fica no Brasil e José Bonifácio de Andrada e Silva é nomeado como o Ministério do Reino e Estrangeiros. Insurreição pela independência brasileira na Bahia. O governo brasileiro proíbe desembarque de tropas portuguesas. Dom Pedro I extingue sistema de sesmarias de terras. Dom Pedro I ingressa na maçonaria, sob o nome de Guatimozim.
A 7 de setembro A Independência do Brasil é proclamada pelo Dom Pedro I em São Paulo. Em 12 de outubro: Dom Pedro I é aclamado imperador. Em 1 de dezembro: Dom Pedro I é coroado como Imperador do Brasil.
1823: Batalha do Jenipapo (Guerra da Independência do Brasil): Tropas portuguesas expulsas pelos brasileiros do Piauí. A Assembléia Geral Constituinte e Legislativa do Império é instalada no Rio de Janeiro. Desaprovação da independência e desmembramento do norte de Goiás do governo da província, por portaria em junho. Tropas portuguesas se rendem aos brasileiros na Bahia. Fim da Federação do Guanais. No Maranhão, a rendição dos portugueses é declarada. Expulsão das tropas portuguesas da Banda Oriental (Uruguai). Os brasileiros tomam a cidade de Montevidéu.
1824: Em 25 de março é outorgada a primeira constituição brasileira por Dom Pedro I. Os Estados Unidos da América são o primeiro país a reconhecer a Independência do Brasil. É proclamada a Confederação do Equador, revolta republicana e separatista, em Recife, Pernambuco. Os primeiros imigrantes alemães chegam ao Rio Grande do Sul.
1825: Frei Caneca e outros membros da Confederação do Equador são condenados e executados em Recife. Início da Guerra da Cisplatina. Uruguai declara a independência do Brasil. Portugal reconhece a independência do Brasil. Dom Pedro I declara guerra ao Governo das Províncias Unidas do Rio da Prata.
1826: Dom Pedro I abdica da coroa de Portugal para sua filha, a princesa Maria da Glória, depois rainha Maria II. Proibição do tráfico negreiro ao norte do Equador. Morre a Imperatriz D. Maria Leopoldina de Habsburgo-Lorena. Morre D. Joao VI em Portugal, provavelmente envenenado.
1827: Vitória da Argentina sobre o Brasil na Guerra da Cisplatina. Em 11 de agosto os primeiros cursos de Direito são criados em São Paulo e Olinda. O Observatório Nacional é criado.
1828: O Tratado do Rio de Janeiro é assinado pelo Império do Brasil e Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina), estabelece a independência da República Oriental do Uruguai. D. Pedro I pela segunda vez casa-se com Amélia de Lechtenberg.
1829: Dom Pedro I do Brasil declara guerra a D. Miguel de Portugal. Dom Pedro I casa-se com Amélia de Beauharnais.
1830: O tráfico de escravos é considerado ilegal. O jornalista Líbero Badaró é assassinado em São Paulo por defender a República.
1831: Dom Pedro I retorna ao Rio de Janeiro. Nomeação de José Bonifácio tutor dos príncipes residentes no Brasil. Dom Pedro I abdica do trono em favor do filho Dom Pedro II. Início da Regência Trina Permanente. Dom Pedro I volta a Portugal junto com a imperatriz D. Amélia. O Hino Nacional Brasileiro é executado pela primeira vez. Atendendo a pressões da Coroa Britânica, o regente Diogo Antônio Feijó promulga uma lei que estabelece que os escravos que entram no Brasil são considerados livres e devem ser reexportados às custas de quem os trouxer. A Lei Feijó não é levada a sério, sendo considerada por todos apenas uma “lei para inglês ver”. Os escravos continuam entrando por um porto dentro do município de Paraty (Paraty-Mirim), em intenso contrabando que sobe a serra pelo velho caminho em direção às fazendas de café do vale do Paraíba.
1832: Charles Darwin, a bordo do HMS Beagle, chega a Fernando de Noronha.
1833: José Bonifácio de Andrada e Silva é suspenso das funções de tutor de Dom Pedro II, substituído pelo marquês de Itanhaém.Aqui termina a primeira parte do Impressões Digitais versão Compacto Duplo.Trilha sonora:
Lado A: Norma Sinfonia (Vincenzo Salvatore Carmelo Francesco Bellini)
Background:
século XV: Mandadei (anonimo) /Martin Codax; Islamic Chant (Al Quram); Early church music of Byzantine, Bulgaria, Georgia;
século XVI: Diferencias sobre la Gallarda Milanesa (A. de Cabezon)/Simone Stella;
século XVII: The Italian Rant (anonimo);
século XVIII: Armide (Jean Baptiste);
século XIX Quintet In A Major, Opus 114, D667 'The Trout' (Franz Schubert)
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