Cativo
Cativo (8 junho 1975)
Noite fria e enregelada
meus dentes rangem, e
nada
tenho em mente
a não ser os amigos.
Tudo aquilo que deixei p´ra trás
No curto início de vida em que tive
tudo (ou nada?) em mim,
de outros e tolos com quem estive.
Razão nenhuma de ficar, de ir ou vir
eu tenho,
apenas acontecer e observar.
Como sempre, na escuridão,
tudo e nada se misturam
e correndo p´ra algum lugar
com meus meninos na rua
busco o ficar, o criar, o lutar.
Encontro então, minha vida
numa não esperada morte,
na personificação de minhas antigas
(nem tanto) sombras
...
Em parar, falar, calar e ouvir
Vivo e cativo meu ser escravo.
Nota: Nampula, norte de Moçambique. Quarta-feira, 25 de Junho de 1975. Milhares de pessoas reunem-se no campo de futebol da cidade para ouvir pela primeira vez os dirigentes da Frelimo. É o primeiro dia de independência. Todos escutam com atenção as palavras dos novos governantes. O discurso é novo, a forma de falar especial e a política sempre presente. Os últimos militares do exército português tinham abandonado a região norte, poucos dias antes.
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