Etmologia e podcasts
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Etmologicamente o termo “comunidade“ é muito interessante. Suas origens remontam aos primórdios da civilização e a uma teia de termos relacionados a uma palavra do latim arcaico: “communis”, um substantivo usado para descrever o que é comum, o que é geral, ou seja, de todos sem um dono específico... de usufruto livre e público, enfim.
Em uma época em que proliferam redes eletrônicas de acesso globais - via cabos ou wireless - e inúmeros ambientes sociais digitais expandem as suas portas da percepção, onde licenciamentos do tipo Creative Commons e ferramentas Open Source são livremente distribuídos, é pertinente, interessante e intrigante a percepção de que - hoje - qualquer pessoa com um computador e uma conexão de rede pode criar, gerir ou participar das mais variadas comunidades focadas em interesses comuns.
Em 2005, eu descobri apenas uma comunidade específica sobre o assunto podcasting. Inicialmente ela era relativamente pequena, consistia de alguns ouvintes e podcasters precocemente agrupados em torno de alguns programas pioneiros como os do Gui Leite, do Danilo Medeiros, do Diego Eis, e do Bruno Torres.
Apesar disso a comunidade era ativa e cheia de gás. Possuia uma energia cativante e uma abertura generosa a novos participantes e idéias. Teve seus momentos geek - tanto no tom como no conteúdo - mas também foi também desastrada, divertida, sensível, e inventiva na alavancagem de novos podcasters (como este que vos digita estas palavras).
Algo sobre o casamento da tecnologia de assinatura RSS, arquivo de áudio e entretenimento, transferidos para meu computador apenas com um clique do mouse?! Isso sim era um excelente método para obter acesso a coisas que eu queria ouvir quando e onde quisesse. E devia ser difundido!
Essa criativa, tolerante e pioneira comunidade de podcasters brasileiros, centrados em uma ética guerilheira e regras não muito definidas, que apenas engatinhava, impulsionou despretensiosamente uma série de programas e podcasters inovadores, muito longe do padrão DJ de FM, MTV ou Mesa Redonda de Futebol...
Embora fosse tecnicamente assustador para alguns o ato de criar e “subir” seu arquivo mp3 para um servidor, a liberdade absoluta de produção de seu prórprio conteúdo e de difusão, é e sempre será o grande e definitivo diferencial entre um Podcast e um mero arquivo de áudio/vídeo distribuído via RSS.
Que maravilha! Não há restrições de estilo e formato que tanto tolhem a criatividade no rádio tradicional. As pessoas ouvindo e produzindo podcasts instigantes, desenvolveram também ferramentas que realimentaram todo o processo de podcasting, popularizando lentamente este formato. Tudo era novo.
Depois de acompanhar por alguns meses este universo efeverscente decidi fazer um podcast... e passaram-se seis meses até eu lançar o primeiro programa. Pouco tempo depois desta minha decisão, descobri inúmeros outros fóruns mais focados em agregar ouvintes do que discutir o podcasting... Mesmo assim, inúmeros podcasters foram descobertos ou se descobriram.
Muitos destes eu vim a conhecer mais de perto. Alguns se tornaram excelentes podcasters, muitos abandonaram o barco e hoje só blogam. Outros desapareceram... Uns ainda são valiosos parceiros e há aqueles que chamo de amigos.
Durante estes quase 3 anos, muito mais que me divertir produzindo o Impressões Digitais, aprendi que os podcasts são poderosas ferramentas de aproximação de pessoas, construindo relacionamentos, permitindo o compartilhamento de histórias, sentimentos e conhecimentos.
Igualmente importante foi o fato de eu descobrir a minha própria comunidade dos ouvintes: as pessoas interessadas no conteúdo que eu estava produzindo. Muitos dos quais oferecem apoio, aconselhamento, informação adicional ou apenas amigável e desinteressado encorajamento.
Através desta descoberta consegui entender esse poder único e intrínseco ao meu podcast, assim passei encará-lo como uma forma de propagar - através de outras estruturas sócio-culturais - a minha mensagem pessoal, e também como uma forma de permitir que outras pessoas chegassem até mim.
Percebi também todo o poder que a web oferece às pessoas que possuem um interesse específico, dentre os variados assuntos que desenvolvo em meu podcast, principalmente o de responder-me apenas sobre um tema, uma idéia muito mais profundamente analisada e a capacidade outorgada de compartilhar um interesse comum. Ou seja, um nicho dentro de um outro nicho!
Os podcasts são particularmente eficazes na criação de um sentido amplo de comunidade, obviamente e porque a palavra falada é o mais eficaz transmissor de significado pessoal e emocional. Muito daquilo que fazemos é calcado apenas em nossa capacidade de falar.
O podcasting ajuda a restaurar tanto o senso de igualdade como a tradição oral, que, por vezes, parece definhar irremediavelmente numa cultura de difusão necessariamente saturada de mensagens comerciais. Os podcasts permitem às pessoas redescobrirem a diversidade de pensamentos, uma riqueza oculta de opiniões, posturas, informações, músicas, dramatizações, culturas, notícias e histórias.
Os podcasts nos colocam novamente em contato com as comunidades que nos são caras e as quais nós pertencemos, mesmo sem saber. Eles nos ajudam a escutar e compartilhar assuntos que desejamos. Ambas situações são ferramentas poderosas para a auto-expressão e importantes veículos para compartilhamento de sentimentos e potencialização de nosso sentimento tão latino de comunidade.
Sérgio Vieira - autor deste artigo, mesmo gostando de filologia, causa arrepios na comunidade quando comete pequenos assassinatos contra a língua pátria.
http://impressoes.vocepod.com
idigitais@gmail.com
Etmologicamente o termo “comunidade“ é muito interessante. Suas origens remontam aos primórdios da civilização e a uma teia de termos relacionados a uma palavra do latim arcaico: “communis”, um substantivo usado para descrever o que é comum, o que é geral, ou seja, de todos sem um dono específico... de usufruto livre e público, enfim.
Em uma época em que proliferam redes eletrônicas de acesso globais - via cabos ou wireless - e inúmeros ambientes sociais digitais expandem as suas portas da percepção, onde licenciamentos do tipo Creative Commons e ferramentas Open Source são livremente distribuídos, é pertinente, interessante e intrigante a percepção de que - hoje - qualquer pessoa com um computador e uma conexão de rede pode criar, gerir ou participar das mais variadas comunidades focadas em interesses comuns.
Em 2005, eu descobri apenas uma comunidade específica sobre o assunto podcasting. Inicialmente ela era relativamente pequena, consistia de alguns ouvintes e podcasters precocemente agrupados em torno de alguns programas pioneiros como os do Gui Leite, do Danilo Medeiros, do Diego Eis, e do Bruno Torres.
Apesar disso a comunidade era ativa e cheia de gás. Possuia uma energia cativante e uma abertura generosa a novos participantes e idéias. Teve seus momentos geek - tanto no tom como no conteúdo - mas também foi também desastrada, divertida, sensível, e inventiva na alavancagem de novos podcasters (como este que vos digita estas palavras).
Algo sobre o casamento da tecnologia de assinatura RSS, arquivo de áudio e entretenimento, transferidos para meu computador apenas com um clique do mouse?! Isso sim era um excelente método para obter acesso a coisas que eu queria ouvir quando e onde quisesse. E devia ser difundido!
Essa criativa, tolerante e pioneira comunidade de podcasters brasileiros, centrados em uma ética guerilheira e regras não muito definidas, que apenas engatinhava, impulsionou despretensiosamente uma série de programas e podcasters inovadores, muito longe do padrão DJ de FM, MTV ou Mesa Redonda de Futebol...
Embora fosse tecnicamente assustador para alguns o ato de criar e “subir” seu arquivo mp3 para um servidor, a liberdade absoluta de produção de seu prórprio conteúdo e de difusão, é e sempre será o grande e definitivo diferencial entre um Podcast e um mero arquivo de áudio/vídeo distribuído via RSS.
Que maravilha! Não há restrições de estilo e formato que tanto tolhem a criatividade no rádio tradicional. As pessoas ouvindo e produzindo podcasts instigantes, desenvolveram também ferramentas que realimentaram todo o processo de podcasting, popularizando lentamente este formato. Tudo era novo.
Depois de acompanhar por alguns meses este universo efeverscente decidi fazer um podcast... e passaram-se seis meses até eu lançar o primeiro programa. Pouco tempo depois desta minha decisão, descobri inúmeros outros fóruns mais focados em agregar ouvintes do que discutir o podcasting... Mesmo assim, inúmeros podcasters foram descobertos ou se descobriram.
Muitos destes eu vim a conhecer mais de perto. Alguns se tornaram excelentes podcasters, muitos abandonaram o barco e hoje só blogam. Outros desapareceram... Uns ainda são valiosos parceiros e há aqueles que chamo de amigos.
Durante estes quase 3 anos, muito mais que me divertir produzindo o Impressões Digitais, aprendi que os podcasts são poderosas ferramentas de aproximação de pessoas, construindo relacionamentos, permitindo o compartilhamento de histórias, sentimentos e conhecimentos.
Igualmente importante foi o fato de eu descobrir a minha própria comunidade dos ouvintes: as pessoas interessadas no conteúdo que eu estava produzindo. Muitos dos quais oferecem apoio, aconselhamento, informação adicional ou apenas amigável e desinteressado encorajamento.
Através desta descoberta consegui entender esse poder único e intrínseco ao meu podcast, assim passei encará-lo como uma forma de propagar - através de outras estruturas sócio-culturais - a minha mensagem pessoal, e também como uma forma de permitir que outras pessoas chegassem até mim.
Percebi também todo o poder que a web oferece às pessoas que possuem um interesse específico, dentre os variados assuntos que desenvolvo em meu podcast, principalmente o de responder-me apenas sobre um tema, uma idéia muito mais profundamente analisada e a capacidade outorgada de compartilhar um interesse comum. Ou seja, um nicho dentro de um outro nicho!
Os podcasts são particularmente eficazes na criação de um sentido amplo de comunidade, obviamente e porque a palavra falada é o mais eficaz transmissor de significado pessoal e emocional. Muito daquilo que fazemos é calcado apenas em nossa capacidade de falar.
O podcasting ajuda a restaurar tanto o senso de igualdade como a tradição oral, que, por vezes, parece definhar irremediavelmente numa cultura de difusão necessariamente saturada de mensagens comerciais. Os podcasts permitem às pessoas redescobrirem a diversidade de pensamentos, uma riqueza oculta de opiniões, posturas, informações, músicas, dramatizações, culturas, notícias e histórias.
Os podcasts nos colocam novamente em contato com as comunidades que nos são caras e as quais nós pertencemos, mesmo sem saber. Eles nos ajudam a escutar e compartilhar assuntos que desejamos. Ambas situações são ferramentas poderosas para a auto-expressão e importantes veículos para compartilhamento de sentimentos e potencialização de nosso sentimento tão latino de comunidade.
Sérgio Vieira - autor deste artigo, mesmo gostando de filologia, causa arrepios na comunidade quando comete pequenos assassinatos contra a língua pátria.
http://impressoes.vocepod.com
idigitais@gmail.com
Comentários
Ótimo artigo. Acho que os podcasts acabaram com a mesmice das rádios. Agora, você tem opções e pode ouvir o que há de melhor em todos os estilos, quando se trata de música, ou se informar, quando a questão é informação.
Em primeiro lugar, muito agradecido por sua persistência em acompanhar o que ando publicando, pois elogios assim, vindo de um profissional da área deixam este engenheiro aqui muito feliz e "cheio de si".
Aproveito a oportunidade (uhmm deu uma vontade de usar "ensejo") p'ra avisar que seu blog não passa em branco não... viva o RSS!!!
Por fim, sinta-se desde já um perfeito alvo para pesquisas de conteúdo... as vezes a mufa aqui precisa de auxílio dos universitários :P